Africanos mantém hegemonia em corrida no litoral paulista

Imprimir

Como nos últimos quatro anos, o domínio foi total dos corredores africanos no 31º 10 KM Tribuna FM-Unilus, neste domingo (15), em Santos. Numa manhã de sol, 20,2 mil atletas largaram na maior corrida do Brasil na distância e novamente, os primeiros colocados vieram do outro lado do oceano. No masculino, Paul Kipkorir Kipkemoi garantiu a 16ª vitória para os quenianos, que ainda faturaram o segundo e terceiro lugares, com Willian Kibor e Edwin Kibet.

Entre as mulheres, Failuna Abdi Matanga comemorou o título para a Tânzania pela primeira vez, superando Esther Kakuri e Jane Seurey, ambas do Quênia. Os melhores brasileiros ficaram em quarto lugar, com Gladson Alberto Silva Barboza e Joziane da Silva Cardoso (repetindo a colocação de 2015). Como prêmio, Paul e Failuna receberam, cada um, R$ 30 mil, de um total de R$ 112,4 mil.

A região também foi bem representada, com o nono lugar de David Benedito de Macedo, de Praia Grande, e a 17ª posição de Sirlene Souza de Pinho, de Santos, que há muitos anos sempre figura entre as primeiras mulheres da prova. Nos cadeirantes, a decisão foi acirrada, com Welington Adriano Antunes de Souza Júnior, vencendo em sua estreia, numa chegada emocionante à frente dos experientes Antonio Rodrigues e Heitor Mariano, que buscava o tri em Santos. Na feminina, Maria de Fátima Chaves, a Fah, confirmou ser a melhor da categoria do País.

Além da disputa acirrada e internacional na frente, a prova foi marcada pela alegria de seus participantes, estimulada pelos famosos “pelotões”, grupos uniformizados de academias, clubes, associações e empresas. Neste ano, a UP! Academia chamou a atenção, com nada menos que 598 inscritos, todos usando camisetas vermelhas. Para aumentar ainda mais a animação, três atrações musicais estimularam os atletas a correr e se divertir.

Outro destaque foi a grande participação popular na torcida, com espectadores espalhados por todo o percurso, sobretudo na reta final, na orla da praia, e próxima à chegada, na Praça das Bandeiras, no Gonzaga. “Graças a Deus o tempo ajudou e garantimos um novo sucesso. Muita gente assistindo a prova. Foi uma corrida bem alegre, num ambiente bem gostoso de se correr”, disse o diretor-presidente de A Tribuna, Marcos Clemente Santini, habitual corredor.
Na disputa masculina, os quenianos colocaram seu ritmo forte desde o início, abrindo vantagem. “Foi a primeira vez aqui em Santos e Adorei. Foi tudo bom, o do percurso, o público. Tudo perfeito. Espero voltar”, disse o atleta de 24 anos, referindo-se ao percurso totalmente plano, ao nível do mar, com grandes retas.

Gladson, que é especialista na prova dos 3 mil metros com obstáculos (pista), fez sua estratégia para terminar como melhor brasileiro. “Eu vinha treinando bem nas últimas seis semanas para provas mais longas e vim muito confiante em melhorar minha marca e ficar entre os dez. Durante a prova, me senti bem e vi a possibilidade de ser o melhor brasileiro”, contou, descartando qualquer possibilidade de tentar enfrentar os quenianos.

“Sabia que se eu fosse junto, seria loucura. A vitória é um processo. Sei que ainda não estou pronto para vencer essa prova e acredito que em mais alguns anos de treino eu possa conseguir. Estou muito feliz e quero agradecer toda a torcida no percurso. Estou sempre em Santos. É uma prova tradicional e desde criança sonho em subir no pódio. Hoje é o meu terceiro pódio e meu melhor resultado”, acrescentou o atleta de 36 anos, que agora se concentra para tentar o índice olímpico para o Rio, em sua especialidade.
Entre as mulheres, a história foi outra. A vencedora e as quenianas também saíram forte, mas Joziane foi junto, confiante numa possível vitória. A disputa foi até o KM 8, mas na reta decisiva as africanas apertaram o ritmo para assegurar as três primeiras posições. “A prova foi ótima. Foi meu melhor tempo na carreira. Ano que vem quero voltar e melhorar ainda mais”, avisou a nova campeã, em sua estreia na disputa santista.
Com o novo quarto lugar, Joziane gostou do desempenho, mas ficou o gosto de quero mais para a próxima edição. “Foi bacana. Largamos forte. Elas ficaram fazendo jogo de equipe, mesmo sendo rivais. Fui até o km 8, tentei resistir, mas elas abriram e não deu mesmo”, contou a brasileira.

Na estratégia africana, estava o “fartlek”, quando as atletas aumentam e diminuem o ritmo, tentando “quebrar” a adversária. “Elas acabaram de vir da altitude, forçavam e olhavam para trás para ver se eu continuava”, ressaltou Joziane. “O importante é que melhorei o meu tempo do ano passado. A colocação foi a mesma, mas baixei seis segundos. Estou no caminho. Cada ano estou melhorando, evoluindo e elas estão no ápice. Elas têm de se preocupar mesmo”, cravou a atleta de 30 anos, que também tem como objetivo uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio nos 5 mil e 10 mil metros de pista.

O treinador dos dois campeões deste ano é Luiz Antonio dos Santos, campeão dos 10 KM Tribuna FM em 1994, quando a prova começava a crescer e ganhar projeção nacional. Depois de se aposentar, a sua relação com a corrida foi próxima, sempre como técnico de atletas de ponta, no trabalho que desenvolve com a equipe Luasa, em Taubaté. “É legal de ver. Eu já fui campeão e hoje estar com um trabalho diferente. Estamos nessa busca há um tempo”, afirmou.

Ele explica que os atletas africanos servem de “espelho” para os brasileiros, inclusive 60 garotos que iniciam no esporte. “A molecada acompanha, conversa, aprende. Essa troca é importante. É a visão de trabalho que estamos seguindo. Tanto que todo ano que venho para a prova, trago brasileiros também”, comentou.

Junto com David Benedito e Sirlene Pinho, a Baixada Santista ainda teve como destaques entre os primeiros colocados do 31º 10 KM Tribuna FM-Unilus, José Uilton dos Santos, em 15º lugar no masculino; Leone Justino – tricampeã da prova em 1991, 93 e 94 e que retornou às disputas nesta edição – na 22ª posição, e Angelina das Graças Rafael em 28º lugar. Já os africanos ainda garantiram o quinto lugar na feminina, com a queniana Carolyne Chemutai Komen, e o sexto do masculino, com o tanzaniano Augustino Paulo Sulle, logo atrás de Wendell Jerônimo Souza.
Com 20,2 mil inscritos, o 31º 10 KM Tribuna FM-Unilus contou com uma grande estrutura, traduzida em números, como 240 mil copos de água (média de 12 por atleta), 40 mil frutas e 1.200 pessoas trabalhando na retaguarda. Outra referência da grandiosidade do evento: atletas de 237 cidades, de 18 estados, considerando só os amadores. Também chamou a atenção a participação feminina, com 47% das inscritas.