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E se Gutenberg pudesse ver como está o mundo...

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Depois da invenção da impressora pelo alemão Johannes Gutenberg, um desafio se faz nos dias atuais: ENTENDER COMO SE COMPORTA O MERCADO EDITORIAL e suas implicações em nossas vidas.

     Seis questões básicas insistem em nos rodear e cobram não apenas entender a importância do contexto histórico, mas também, nos incitam a relacionar o passado com o futuro das produções jornalísticas e literárias, afinal...

1. Qual foi o impacto da invenção de Gutenberg para comunicação?
2. Quais foram os primeiros documentos impressos por Gutenberg ?
3. Como a invenção dos tipos móveis modificou o acesso à informação?
4. Em que medida a invenção dos tipos móveis contribuiu para o surgimento do primeiro jornal diário? Quando o periódico foi lançado? Com qual objetivo? Que nome recebeu?
5. A partir da descoberta de Gutenberg, que processo transformou a tecnologia da informação?
6. Como relacionar a revolução provocada na imprensa pela invenção de Gutenberg à revolução digital?

CONTEXTO HISTÓRICO:
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PuTnW9kyKg0


     Na cidade alemã de Mainz, Johannes Gutenberg (1400 - 1468), inventou a máquina de impressão em 1450. Antes, as obras eram escritas pelos monges, manualmente.

     Em Estrasburgo, em 1434, Gutenberg criou uma fábrica de espelhos, um negócio lucrativo - a xilografia (imagens e textos - técnica manual que esculpia blocos de madeira para depois imprimir). Uma imagem invertida era esculpida na madeira e em seguida, passava-se a tinta nas letras e o papel era impresso.

     Com o tempo, as bibliotecas criaram uma grande demanda e todos queriam cópias desta arcaica maneira de produzir manualmente. Os estudantes também eram cedentos de cópias e assim, iniciou-se uma corrida para acelerar a produção. Sentindo essa necessidade, Gutenberg saiu em busca de acelerar a descoberta de uma nova forma produtiva e em 1446 conseguiu suporte financeiro. Num processo demorado, foi criando os caracteres góticos - as combinações e usou moldes de chumbo, dando origem às letras individualmente. Ele produziu cada uma delas em grande quantidade. Usou também uma prensa especial.

     Suas primeiras produções foram documentos oficiais, como os decretos papais. A gramática teve importância nesse processo trabalhoso e o ápice do empreendimento foi a produção de uma Bíblia Latina, quando foram usadas mais de 100 mil peças tipográficas (190 cópias desta Bíblia foram produzidas em dois anos). Esse era o primeiro trabalho impresso de Gutenberg (cópias idênticas), dando origiem a uma nova maneira de se produzir.

     A tecnologia se espalhou rapidamente e um público alvo começava a surgir. Novos investidores apareceram e em Veneza, um editor empreenderor chamado Aldo Manúcio começou a produzir os clássicos da época e difundiu uma nova fonte chamada "Antiqua" que logo se espalhou. Vinte anos depois, milhares de livros já eram produzidos e estes, começaram a ser mais acessíveis para as pessoas comuns, ajudando no processo de alfabetização.

     O reformador Martinho Lutero - grande admirador de Gutenberg - solicitou a impressão de 500 cópias impressas da Bíblia Sagrada, colocando assim uma nova fase na educação religiosa da época entre os protestantes, quando distribuiu milhares de folhetos. Não apenas Lutero explorou essa nova midia, mas também a realeza da época. O primeiro jornal diário surgiu em Leipzig, em 1650, chamado (Einkommende Zeitungen =  Últimas Notícias) e era publicado seis dias por semana. A produção só decolou mesmo depois que inventaram as prensas rotativas movidas a vapor, no século XIX.

     Mais tarde, o processo "offset" deu impulso ainda maior à midia impressa diária. Com isso, a página passa a ser impressa por uma tecnologia que envolve a exposição à luz em uma fina chapa de impressão que em seguida é acondicionada perfeitamente a um cilindro. Este é umedecido com a tinta e a transfere para um outro rolo de borracha. Na etapa seguinte, o rolo de borracha imprime o papel.

     Criou-se então a indústria lucrativa da informação, quando finalmente o conhecimento podia ser passado para a sociedade de uma forma organizada e rápida. Esta, sem dúvida foi uma das invenções mais importantes para a difusão do conhecimento.

     Ironicamente, Gutenberg não fez fortuna com sua invenção, pois acabou entrando em conflito jurídico com o financiador do projeto que lançou ao mundo o seu invento. Além de perder a batalha jurídica, Gutenberg perdeu a impressora e também todas as Bíblias impressas.

CONSIDERAÇÕES:

     Sem dúvida, o impacto da invenção de Gutenberg para a comunicação foi enorme, afinal, a rudimentar tecnologia da idade média deu um salto enorme com sua descoberta. Hoje em dia, o mundo provavelmente não seria o que é - se não fosse esse incremento na maneira de espalhar o pensamento. É interessante entender que tudo começou com a xilografia e a necessidade de expandir as ideias, culminando com a invenção da máquina de imprimir.

     A criação dos tipos móveis de Gutenberg, sem dúvida modificou o acesso à informação e fez nascer aquela "LUZ" no fim do túnel, afinal, aguçou nas mentes dos pesquisadores e interessados da época, a ideia de se difundir o conhecimento. Mesmo que começando com a distribuição de folhetos e o demorado processo produtivo de grandes obras, era o que foi possível se fazer naquele momento  histórico do conhecimento humano. Certamente Gutenberg tinha noção do avanço que estava proporcionando com sua invenção, mas talvez não entendesse ainda o alcance que ela teria no futuro.

     Com o primeiro jornal diário (Leipzig-ALE, em 1650), chamado - Einkommende Zeitungen (Últimas Notícias), o mundo chegava a um momento decisivo, já que suas edições trouxeram um maior interesse pela alfabetização no continente europeu. Mudou a forma de como os nobres elitistas e seus reinados viam as pessoas. Sentiu-se não apenas a necessidade de informar, mas também, exercer políticas educacionais mais efetivas e de maior alcance.

     A evolução para a tecnologia "offset" evidenciou definitivamente o poder que a informação oferece. Uma notícia, uma informação, uma ideia não era simplesmente isso - trazia também o poder de ou manusear as mentes, ou simplesmente instruir e informar. Isso clarificou o que hoje em dia conhecemos como o "QUARTO PODER = IMPRENSA", mas que outros preferem dizer simplesmente "PRIMEIRO PODER", pela sua inegável importância e influência no cotidiano, já que no seu bojo traz a capacidade de destruir ou construir (ideias, conceitos e objetivos) das elites ou minorias.

     Parafraseando o cantor e compositor brasileiro Lulu Santos -  na sua música "Assim Caminha a Humanidade", o mundo literalmente  mudou pela sua infinita sede de conhecimento, pelo seu enorme desejo do novo, pelo melhor e aquilo que traz objetividade. Dos tipos móveis de Gutenberg aos computadores e sua revolução digital, o homem se encontra e reencontra a cada dia.

     Alguns dizem que o mundo piorou, já outros não exitam em admitir que melhorou e enfim, nesta verdadeira sopa de ideias, o contraditório se funde com o senso comum, o literário se confunde com o factual e a humanidade segue seu rumo. Para onde mesmo? Bem, descrever o futuro é uma tarefa difícil, mas quem sabe não impossível.

     As ideias flutuam entre aqueles que têm sonhos e os que são duros de alma. O mundo pode estar dividido entre os que vêm o jornal de papel impresso sendo entregue por robôs e os que preferem o nostáugico entregador de jornais, que aliás, existe ainda? Gutenberg se estivesse hoje entre nós ou com uma lupa lá do seu passado, não entenderia nada, ou tudo?

Cesar Leite