A sátira à política nacional dividiu espaço com temas internacionais no Pacotão deste ano. A crise política no Oriente Médio e no Norte da África não passou despercebida no bloco mais tradicional da capital federal, que no dia 08 de março fez o segundo desfile no carnaval de 2011.
Diversas faixas citavam o presidente da Líbia, Muammar Khadafi, que enfrenta uma guerra civil em seu país. Os dizeres seguiam a irreverência tradicional do bloco. “Khadafi não leva mais a Líbia na lábia”, citava uma faixa.
Até o boneco de Charles Preto, presença tradicional no Pacotão, carregava um lenço árabe. “Quero passar a mensagem de que a democracia é mais importante que tudo”, disse o bancário Arimateia Lima, 57 anos, que carregava o boneco num jipe.
O boneco do Charles Preto fazia referência ao diretor do Departamento de Turismo do Distrito Federal durante a ditadura militar, Carlos Black Pereira. Em 1978, quando o Pacotão foi fundado, ele ameaçou impedir o desfile. Em homenagem a Carlos Black, os criadores do bloco criaram o boneco e o nomearam presidente vitalício e simbólico do Pacotão.
Apesar dos temas internacionais, a política nacional continuou a ter destaque no Pacotão. Nem escândalos recentes foram deixados de lado. Diversas faixas faziam menção à deputada federal Jaqueline Roriz (PMN), flagrada num vídeo obtendo recursos ilegais para a campanha eleitoral de 2006.
“Jaque, cadê meu dinheiro? Você viajou? Me liga, mulher”, dizia uma faixa. Outra foliã comparava a deputada ao pai, o ex-governador Joaquim Roriz. “Tal pai, tal filha”, criticava a faixa.
O governo da presidenta Dilma Rousseff também foi satirizado. “Dilminha tesourão, tesourão chegou cortando tudo”, mencionava uma faixa, referindo-se ao corte de R$ 50 bilhões no Orçamento deste ano. A eleição de celebridades para o Congresso Nacional não ficou de fora. “Tiririca, Popó e Romário: Tropa de Elite 3 na Câmara dos Deputados”, citava outra faixa.
Mais uma vez, o corretor de seguros Jafé Tôrres, 70 anos, desfilou vestido como o ex-presidente e atual senador Itamar Franco. Uma placa pendurada no pescoço justificava a volta de Itamar ao cenário político nacional: “Dilminha, abra o olho. Estou aqui de novo”.
No Dia Internacional da Mulher, elas foram homenageadas. Ao longo do percurso, o locutor do trio elétrico dedicava o desfile às mulheres. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 2 mil pessoas acompanhavam o Pacotão no início da W3 Sul, uma das principais avenidas de Brasília. A tendência é o público aumentar até as 22h, quando acaba a festa.
Apesar do público maior que nos últimos anos, o clima era de segurança. Até as 17h, a Polícia Militar não tinha registrado incidentes. “Aqui, a diversão é para a família toda”, disse a costureira Leilian Alves, 45 anos, que há 22 anos desfila no bloco com a filha e, mais recentemente, com as duas netas.