O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na segunda-feira (30-05) ter pedido aos demais países do Brics - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - que a escolha do próximo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) seja baseada no mérito, não na nacionalidade. Ao lado da ministra da Economia da França, Christine Lagarde, Mantega reivindicou a continuidade das reformas no organismo internacional para dar mais poder aos países emergentes.
A posição do ministro diverge de vários países latino-americanos, que pediram que o comando do fundo deixe de ser ocupado por um europeu. Para Mantega, a nacionalidade deve vir em segundo plano. “Até acho desejável a alternância entre países avançados e emergentes no médio e longo prazo, mas acredito que escolha seja feita mais pela qualidade e pela competência do que pela nacionalidade”.
O discurso de Mantega se aproxima de países como África do Sul e Austrália, que há cerca de uma semana também manifestaram preferência da escolha pelo mérito, independentemente do país de origem do candidato. Esses dois países dividem a presidência do grupo de trabalho do G20 – grupo das 20 maiores economias do mundo – que discute a reforma no FMI.
Apesar de não ser contrário à escolha de um europeu para presidir o fundo, Mantega rechaçou o argumento de que o próximo diretor-gerente deve vir da União Europeia porque diversos países do continente estão pedindo ajuda econômica. “O fato de o fundo estar resolvendo a crise europeia não significa que um europeu seja o mais adequado para comandá-lo. É o mesmo que dizer que um latino-americano deveria ter presidido o FMI durante crise na América Latina”.
Para Mantega, as qualidades mais importantes dos candidatos devem ser a competência, a experiência e o comprometimento com as reformas em curso, que aumentarão as cotas do Brasil no fundo de 1,4% para 2,3% até o fim de 2012. O ministro também reivindicou maior participação dos países emergentes no corpo burocrático do fundo, nas vice-presidências e nas diretorias.
Lagarde escolheu o Brasil como primeira etapa da campanha para assumir o comando do FMI após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn, que renunciou para se dedicar à defesa do processo em que é acusado de agressão sexual nos Estados Unidos. Em entrevista coletiva, ela ouviu de Mantega pedidos para que as reformas empreendidas no fundo nos últimos anos não sejam interrompidas.
Mantega recusou-se a comentar a proposta feita por ele aos demais países do Brics de que a gestão do próximo diretor-gerente seja um mandato-tampão, que durasse até o FMI concluir a segunda etapa de reformas, em 2012. Afirmou apenas que os países do Brics ainda não fecharam posição em torno de um candidato.
O ministro da Fazenda elogiou ainda a gestão de Strauss-Kahn à frente do FMI por ter iniciado as reformas que permitiram a maior participação de emergentes e, segundo ele, ter se afastado do receituário tradicional. “Strauss-Kahn fez política não ortodoxa. Durante a crise, o FMI recomendou políticas anticíclicas [que países gastassem mais para manter o crescimento], o que talvez não fosse típico no passado. Além disso, o fundo concedeu linhas de crédito sem condicionantes e com maior participação dos emergentes”.
Na quarta-feira (1), Mantega recebe o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, que se apresentou como o candidato latino-americano e defende a alternância de nacionalidades no comando do FMI, ocupado desde 1945 por um europeu. Na quinta-feira (2), Carstens se reúne com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em São Paulo.