A fragata União, da Marinha brasileira, que liderará a frota das forças navais da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês) atracou nesta segunda-feira (14) no Porto de Beirute, dando início a um "momento histórico para o Brasil", segundo o contra-almirante brasileiro Luiz Henrique Caroli. Em entrevista à BBC Brasil a bordo do navio, Caroli disse que a presença na força marítima da ONU é crucial para o Brasil pela importância da região no cenário internacional, além de demonstrar a confiança da organização na competência dos militares brasileiros nesse tipo de operação.
"Toda a tripulação sabe da enorme responsabilidade de fazer parte de uma força de paz da ONU e do momento histórico para o Brasil em estar aqui", disse o contra-almirante, que é o comandante da Força Tarefa Marítima (MTF, na sigla em inglês), a unidade marítima da Unifil.
Esta é a primeira vez que militares brasileiros participam da frota naval de uma força de paz. Equipada com helicóptero e levando 243 militares brasileiros, a fragata União será o principal navio de uma frota internacional que conta ainda com três navios alemães, dois de Bangladesh, um grego, um turco e um da Indonésia.
O comandante do navio, o capitão de fragata Ricardo Fernandes Gomes, também reforçou que a tripulação está ciente "das repercussões políticas em torno da Unifil e das consequências de suas ações".
"Todos estão motivados e cientes das exigências de fazer parte das forças de paz em uma região conturbada como o Oriente Médio", disse. "Para isso, a Marinha está nos dando todo o apoio financeiro e logístico para desempenharmos um papel a altura."
Os dois militares explicaram que a incorporação da fragata União aumentará o poder de alcance da frota da Unifil, já que a embarcação tem mais recursos, permitindo maior alcance e cobertura, além de mais flexibilidade nas operações.
Para fazer parte da Unifil, os militares brasileiros passaram por treinamentos voltados para situações específicas de forças de paz e por cursos e palestras. "Um terço da tripulação fez estágios de operações de paz da Unifil. E militares brasileiros que estavam no Líbano palestraram para nossos marinheiros sobre o país e a vida entre as tropas de paz", disse Gomes.
Ele explicou que simulações de abordagem pacífica de embarcações e de uso de força para fazer vistorias também foram feitas, com o emprego de mergulhadores das operações especiais que, agora, integram a fragata. Como a ONU exige que militares das forças de paz sejam voluntários, a tripulação teve de passar por algumas reposições, segundo Gomes. "Cerca 5% da tripulação não se voluntariaram por motivos familiares, e outros 10% foram liberados para que realizassem cursos que já estavam agendados."
A missão brasileira, de oito meses, começou oficialmente em fevereiro, quando Caroli assumiu o comando da unidade marítima da Unifil. Atualmente, a missão monitora a fronteira entre Líbano e Israel e ajuda o governo libanês a evitar a entrada de armas ilegais no restante de suas fronteiras. A MTF patrulha águas da costa libanesa para evitar a violação do embargo de armas imposto ao Líbano, além de treinar a Marinha daquele país. A MTF foi criada por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em 2006.
Já a Unifil, criada em 1978 para supervisionar a retirada das tropas de Israel do território do Líbano após a crise entre os dois países, conta atualmente com mais de 12 mil militares de 37 países.
Segundo o embaixador brasileiro no Líbano, Paulo Roberto Tarrisse da Fontoura, a relação entre Brasil e Líbano também se fortalecerá com a presença da fragata. "O governo libanês tem enorme simpatia pelo Brasil e sabe que nós temos a competência necessária para fazer um bom trabalho”.
Segundo Fontoura, o governo brasileiro sabe que a Unifil é instrumento fundamental para que o Estado libanês adquira a soberania sobre seu território. "O país passou por guerra civil, ocupações israelense até o ano 2000 e da Síria, até 2005. O Sul do país ficou inacessível aos libaneses e ao governo por muito tempo. A Unifil está sendo de suma importância para ajudar o Líbano a ter sua soberania”, salientou o embaixador. "A presença de um navio brasileiro é, certamente, um orgulho nacional e algo de enorme importância para o Brasil".