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Exposição em São Paulo propõe reflexão sobre sistema prisional

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O aviso da implosão do Complexo Penitenciário Frei Caneca, no Rio de Janeiro, inspirou o artista Carlos Vergara a filmar e documentar o fim do mais antigo presídio do país. Em seu ateliê, no bairro de Santa Tereza, Vergara teve a ideia de mostrar que a história dos detentos – de criminosos comuns a presos políticos – não poderia ficar esquecida sob os escombros.

A exposição Acolher Liberdade pode ser vista a partir deste sábado (21) no Memorial da Resistência de São Paulo, na Estação Pinacoteca. São cerca de 50 trabalhos, entre pinturas e objetos, além do filme que mostra todo o processo de construção das obras. A partir das imagens captadas nas implosões, Vergara desenvolveu monotipias que serviram de base para as pinturas. Na área externa do Memorial será apresentada uma instalação com 32 portas, que compunham as celas do presídio.

A mostra já esteve em cartaz no Rio de Janeiro no ano passado, logo depois da implosão, para aproveitar “o calor do momento”, como explicou o autor. Segundo Vergara, o convite para expor no memorial o instigou pelo fato de o local ter sido uma prisão política no passado, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops). “Eu achei que era uma coisa ótima estar junto com as duas coisas.”

Vergara explicou que a exposição tem uma visão, de artista, do que seria uma casa de correção. “O que me interessava era mostrar o que tinha de impalpável das pessoas que passaram, viveram e morreram lá.”

O artista, além de filmar e fotografar a implosão em março do ano passado, visitou os escombros e os pavilhões que ainda restavam antes da segunda implosão. Segundo ele, o Complexo Penitenciário Frei Caneca era uma das comprovações de que o sistema penal existente no país não é a forma ideal de corrigir criminosos. “A tendência criminosa de muita gente é um problema social, de todos nós, e eu resolvi misturar arte com isso. Significa que da tragédia também se tiram lições.’

Vergara reforça que as pessoas podem e devem ser sensibilizadas pelo que chamou de “lado sombrio” da sociedade. “Minha ideia foi produzir trabalhos inspirados nessa área sombria da sociedade, sem ser jornalístico, antropológico, sociológico. Só quis invadir essa área. Esse trabalho fala de coisas sombrias. No fundo, uma prisão é a área da sombra e a liberdade é a luz.”

O artista definiu ainda que a exposição pode trazer qualquer tipo de reflexão, já que a forma como as obras serão vistas é algo muito pessoal, mas ressaltou que pretende mostrar que o criminoso é um problema de todos, assim como a liberdade e as prisões.

“Não adianta empurrar para debaixo do tapete. Um dos problemas que temos, e talvez o maior, é como viver junto. Essa arte serve para acender áreas sutis do pensamento, para tentar achar essa resposta. A arte é uma forma de examinar o real, de fazer perguntas dirigidas que acendam a intuição para as respostas.”

A exposição fica em cartaz até o dia 14 de outubro.