Depois de cinco anos do lançamento do Programa Na Mão Certa (PNMC), direcionado ao enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, uma
nova pesquisa, realizada para a Childhood Brasil, confirma que os caminhoneiros estão mais conscientes sobre este grave problema de violação de direitos humanos.
A pesquisa foi conduzida pelo núcleo de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe em parceria com o núcleo de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com a coordenação do Professor Doutor Elder Cerqueira-Santos, que também integrou a equipe do estudo desenvolvido em 2005.
Esta pesquisa foi patrocinada por três signatários do Pacto Empresarial Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras: Instituto Arcor Brasil, Fibria e MAN Latin America. Em novembro de 2006, quando foi lançado o Pacto Empresarial, 65 empresas signatárias iniciaram a mobilização empresarial em favor da causa; hoje são 926 empresas engajadas na educação, sensibilização e capacitação de motoristas e pessoas que atuam direta ou indiretamente nas rodovias do País.
Com o propósito de atualizar os dados sobre o perfil do caminhoneiro aferidos no estudo anterior, com ênfase na questão do envolvimento com a exploração sexual de crianças e adolescentes, foram entrevistados, individualmente, 343 caminhoneiros. As entrevistas foram realizadas entre os meses de junho e setembro de 2010, em sete cidades brasileiras: Porto Alegre (RS), Itajaí (SC), Cubatão e Santos (SP), Belém (PA), Natal (RN) e Aracaju (SE). Nesta nova versão, a pesquisa contou com um grupo de participantes vinculados a empresas signatárias do PNMC, que foi analisado como grupo controle.
Resultados da Pesquisa
“Os resultados da pesquisa comprovam que estamos no caminho certo para ampliar a rede de proteção de crianças e adolescentes da exploração sexual nas rodovias brasileiras, com a soma de esforços do poder público, das empresas signatárias e dos próprios caminhoneiros”, destaca Rosana Junqueira, coordenadora do Programa Na Mão Certa.
Um dos dados mais significativos é a diminuição no número de adultos envolvidos no sexo com crianças e adolescentes. Quando questionados se já saíram com crianças ou adolescentes, 82,1% dos entrevistados disseram que não em 2010; em 2005 esse índice foi de 63,2%. A pesquisa mostrou também que os caminhoneiros estão mais conscientes em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes: em 2010, 37% deles disseram saber que essa prática é errada e, por isso, são contra, enquanto que em 2005, apenas 20,8% responderam dessa forma.
Houve um aumento na percepção de que o sexo com crianças é uma forma de exploração. Em 2010, 32% dos motoristas disseram acreditar que existe alguém explorando as crianças que estão nas estradas. Percebe-se mais a implicação dos adultos na exploração sexual, sejam como clientes ou como exploradores (cafetões, pais ou agenciadores).
Os motoristas entrevistados também confirmaram que estão mais familiarizados com as leis e os serviços de proteção a crianças e adolescentes. A maioria disse conhecer o Conselho Tutelar (91,6%), o Estatuto da Criança e do Adolescente (76%), o Juizado de Menores (76,6%), a campanha contra exploração de crianças e adolescentes no Brasil (61,7%) e o Disque-Denúncia (56,2%). Também houve um aumento no número de motoristas que já utilizaram o Disque-Denúncia: 4,9% em 2010, contra 1,3% em 2005. No levantamento anterior, apenas 12,1% disseram já ter dito algum contato com campanhas contra exploração sexual de crianças e adolescentes; em 2010, esse percentual triplicou, subindo para 30,4%.
Quando comparados os entrevistados em 2010 com o grupo de controle, ligado a empresas signatárias do PNMC, os dados são também significativos, apontando para uma possível efetividade da implementação do programa de intervenção nas empresas. O grupo de controle apresenta maior acuidade na percepção do problema e conhece mais os serviços de proteção (87% conseguem apontar o problema entre os colegas e 94% conhecem e sabem o número do Disque-Denúncia).
O caminhoneiro tem, em média, 41,85 anos de idade, um pouco acima da observada no estudo anterior que foi de 38 anos de idade. O tempo médio de profissão também é maior, passando de 15,32 anos para 17,39 anos em 2010.
O nível de escolaridade registrou um pequeno aumento, sendo que 34,4% têm ensino fundamental incompleto, 24,6% têm fundamental completo e 25,4% têm médio completo. Em 2005, 34% declararam ter fundamental incompleto, enquanto 23,9% tinham fundamental completo e 19,7% tinham médio completo. Este dado, juntamente com outras questões qualitativas, aponta para a maior profissionalização da área. Nota-se, por exemplo, que a tradição familiar vem diminuindo (caiu de 30% para 24%) e que o desejo pessoal pela profissão aumentou (de 37% para 43%). Entre os motoristas vinculados às empresas, a diferença na qualificação é ainda maior.
Houve um pequeno aumento da renda mensal familiar, atingindo uma média de R$ 2.944,23, contra R$ 2.622,07 em 2005. Ainda assim, para a maioria da amostra (46,7%), a média da renda familiar ficou entre R$ 1.001,00 e R$ 2.000,00 por mês. Para os motoristas do grupo de controle a média salarial está acima dos R$3.000,00.
Hoje os caminhoneiros passam 19,08 dias na estrada, um dia a menos que em 2005, e esperam mais tempo pela carga, com média de 57,89 horas, tempo que varia de acordo com a sazonalidade de cargas. No entanto, o grupo de controle passa em média 12 dias na estrada e 36 horas esperando por carga.
A percepção dos caminhoneiros sobre as condições das estradas permanece ruim. Ao serem questionados sobre o que gostariam de ter nos pontos de parada ou apoio, 80,6% deles responderam banheiro limpo, 55,2% disseram comida boa e 53,7% apontaram atendimento médico. Comida barata, salas de TV, jogos e para atividade física, bons quartos e internet também foram reivindicados.
Segundo os entrevistados, o risco de acidentes, a insegurança e a violência continuam sendo os maiores problemas enfrentados na profissão. Somam-se a eles, o fato de ficarem longe da família, a má qualidade das estradas e a baixa remuneração.
Para o coordenador do estudo, Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos, “os resultados podem ser encarados como positivos, uma vez que mesmo enfrentando os mesmos problemas de cinco anos atrás, a categoria apresenta sinais de maior profissionalização da área. Destaca-se o conhecimento sobre a ESCA e a qualificação das informações sobre o fenômeno, especialmente no grupo controle, indicando efetividade de algumas ações. Todo o estudo indica que a estratégia da informação no enfrentamento da ESCA pode ser uma receita de sucesso”.
Informações mais detalhadas do Programa Na Mão Certa e da Pesquisa O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro em www.namaocerta.org.br
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