Ao atender na terça-feira (22/05) à convocação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, decidiu não responder às perguntas dos integrantes da comissão e seu silêncio irritou os parlamentares, que chegaram a propor que a sessão fosse encerrada.
Orientado por seus advogados, o empresário disse que estava respondendo a uma investigação na Justiça e, por isso, se reservava ao direito de ficar calado. "Estou aqui como manda a lei para responder o que for necessário. Constitucionalmente, fui advertido por meus advogados para não dizer nada e não falarei nada aqui. Somente depois da audiência que eu terei com o juiz, se eu, porventura, achar que eu devo contribuir, eu virei aqui para falar", disse o empresário.
Cachoeira está preso desde o dia 29 de fevereiro, como resultado das atividades da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que investigou sua possível ligação com jogos ilegais e o comando, por parte do empresário, de uma rede criminosa envolvendo agentes públicos e privados. Com uma aparência mais magra, o empresário chegou ao Senado escoltado pela polícia, vestindo um terno cinza e de gravata.
De início, a posição de Cachoeira já irritou alguns deputados. O relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), que havia preparado mais de 100 perguntas para fazer ao empresário, preferiu não fazê-las diante da opção de silêncio de Cachoeira. “Prefiro reservá-las para outra ocasião”, disse o relator.
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) reclamou: "O depoente não pode achar que aqui tem um bando de palhaço", disse. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) também se disse preocupado com a imagem que os senadores e deputados poderiam passar ao terem suas perguntas ignoradas pelo depoente. Diante disso, concordou com a sugestão de suspender a reunião.
"Não imaginamos que imagem estamos passando para a população. Que estamos aqui diante de um marginal, que sai da Papuda para vir para cá e mantém-se com a arrogância dos livres. Não creio que devemos continuar com esse depoimento. Da minha parte, formulei algumas perguntas, mas as reservarei para outra oportunidade. Não farei indagação alguma, porque respostas não há", disse Álvaro Dias.
Já o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) chegou a fazer algumas perguntas, que foram respondidas por Cachoeira com a repetida frase: "Calado, senhor". Irritado, o deputado retrucou: "Gostaria de dizer ao senhor Cachoeira que nós não somos teu [sic]", disse Rubens Bueno, referindo-se à mensagem trocada na semana passada, via celular, entre o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Vaccarezza foi flagrado, pelo canal de televisão SBT, durante reunião da comissão, passando mensagem para Cabral, tranquilizando-o que as investigações da CPMI não o atingiriam.
Na sessão desta terça, Cachoeira chegou a responder às críticas de deputados e senadores ao seu silêncio. "Houve um pedido para que os senhores reavaliassem a nossa vinda aqui. Quem forçou foram os senhores", disse.
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) chegou a propor que se encerrasse a sessão convocada para ouvir o depoimento do empresário e, em seguida, os trabalhos fossem reiniciados como parte de sessão administrativa, onde poderiam ser votados requerimentos para quebra de sigilo e outras convocações. Alguns parlamentares alegaram ainda que o silêncio de Cachoeira, antecedido por várias perguntas de cada parlamentar da CPMI, estava servindo de munição para a defesa do empresário em futuras ações judiciais.