De um lado, o técnico que conduziu o Brasil à medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney em 2000; de outro, a treinadora há mais tempo em atividade no mesmo clube no basquete nacional e que gosta de brincar se comparando ao escocês Alex Ferguson, desde 1986 dirigindo o Manchester United no futebol inglês. Antonio Carlos Barbosa e Laís Elena são talvez os principais personagens da decisão da Liga de Basquete Feminino entre Ourinhos e Santo André neste domingo. A grande final será realizada às 10 horas na Associação Esportiva São José, com transmissão ao vivo pelo SporTv.
"Será uma decisão entre amigos", lembrou Barbosa, que recepcionou a amiga com um caloroso abraço neste sábado no palco da partida que apontará o primeiro campeão da LBF. Ourinhos, pentacampeão de 2004 a 2009, treinou no início da manhã e suas jogadoras ainda estavam no ginásio quando a delegação de Santo André apareceu para fazer o reconhecimento do local. Os técnicos chegaram à definição depois de vitórias suadas por 3 a 2 na melhor de cinco das semifinais. Santo André eliminou Catanduva, atual campeão brasileiro, e Ourinhos superou o favorito Americana, dono da melhor campanha na primeira fase.
As duas equipes encerraram a preparação em clima de otimismo. Depois de ministrar um treino tático, Barbosa reuniu o grupo para uma preleção. "Vocês estão com a postura de quem quer ser campeão", elogiou. "Vamos enfrentar adversárias qualificadas, mas podemos vencer se cada uma souber cumprir a sua função. E a marcação vai fazer toda a diferença", disse Barbosa, que aportou em Ourinhos no segundo turno em meio à crise provocada pela série de três derrotas consecutivas. "Nossos adversários haviam perdido o respeito. Todas começaram a achar que poderiam nos vencer. Minha primeira preocupação foi devolver a auto-estima às jogadoras", contou. Barbosa manteve a base que vinha sendo utilizada pelo antecessor Urubatan Paccini. "Mas ele mudou nosso ritmo de jogo e aproveitou as virtudes de cada uma. É um técnico exigente, que tem suas convicções, mas que também sabe nos ouvir", assinalou a pivô Tatiana.
O time de Santo André viajou para São José dos Campos na manhã deste sábado e seguiu direto para o ginásio. Antes de iniciar o apronto, Laís Elena brincou: "Tem alguém de Ourinhos nos espionando?". Em seguida, sempre ao lado da supervisora e fiel escudeira Arilza Coraça, orientou o treinamento. "Minha maior preocupação é com a falta burra, aquela que não acrescenta nada. Não temos muitas opções de trocas e tenho conversado muito com elas a esse respeito. Na última partida, contra Catanduva, perdemos Ega e Ariadna no meio do terceiro quarto por causa de duas faltas no ataque", criticou.
Laís Elena parou de jogar em 1974 e passou os oito anos seguintes nas divisões de base em Santo André. Em 1983, no extinto Pirelli, passou a trabalhar com os times principais da cidade. "Sou uma espécie de Alex Ferguson. Aliás, por causa dele até me tornei torcedora do Manchester. Ele é uma referência para mim. Quando o vejo no banco de reservas, sinto que ele passa muita credibilidade", afirmou. Campeã brasileira em 1999 por Santo André, Laís Elena sonha com o segundo título para retribuir o apoio dos torcedores - "eles lotaram o ginásio nas semifinais e nos ajudaram bastante" - e por acreditar que o basquete vive um ótimo momento na cidade. "As escolinhas estão com muitos alunos e temos três meninas na seleção sub-19", explicou.
Apesar da campanha superior ao longo da temporada, Santo André rechaça qualquer sugestão de favoritismo. "Se eu pudesse contar com a Taiara, talvez pudesse aceitar que nossas chances seriam maiores, mas ela fraturou um dedo da mão esquerda e está fora há vários jogos. Minha primeira opção de troca hoje é a Cacá, uma juvenil que mostrou personalidade contra Catanduva. Pedi a ela apenas para marcar a Palmira e ela desempenhou a missão muito bem." Pelo lado de Ourinhos, Barbosa também vê um quadro de equilíbrio. "Não há favorito", sintetizou.
Com a vinda de simpatizantes de Ourinhos e Santo André, a Liga de Basquete Feminino acredita que os dois mil lugares do ginásio, localizado na região central de São José dos Campos, serão ocupados. No intervalo, a entidade homenageará a jogadora Helen Luz, campeã mundial em 1994 na Austrália e medalhista de bronze em Sidney em 2000. Depois de atuar por Americana nesta temporada, Helen anunciou o final da carreira aos 38 anos de idade.